17/06/2021 às 14h24min - Atualizada em 17/06/2021 às 14h24min

Inverno de 2021 poderá ser mais seco que o do ano passado, diz prognóstico

Notícias do Café

O fim do outono, caracterizado por seca em grande parte do Brasil, tem favorecido a colheita do café e acelerado o desenvolvimento do milho na região central do país. Prognóstico elaborado pelos pesquisadores Williams Ferreira (Embrapa Café/ EPAMIG) e Marcelo Ribeiro (EPAMIG).

 

O fim do outono


A estação do Outono deste ano, que terá como duração 92 dias, 17 horas e 54 minutos, chegará ao seu término no próximo dia 21 de junho, às 0h32 do horário de Brasília, quando ocorrerá o Solstício de Inverno do Hemisfério Sul, que neste ano terá duração de 93 dias, 15 horas e 49 minutos. Este final de estação tem sido marcado por chuvas isoladas nas porções Sul do Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais. Na região Sul do país a chuva também tem ocorrido, embora tardia, e tem ajudado um pouco as atuais safras de milho e trigo da região.



Em grandes áreas na região central do país, as secas persistem, sendo comuns nesta estação do ano, e em algumas áreas a temperatura tem ocorrido pouco acima da média do período, acelerando principalmente o desenvolvimento do milho da região. Em Minas Gerais, o tempo seco tem prevalecido, apesar das poucas chuvas isoladas, favorecendo assim a colheita do café, bem como o processo de secagem que ocorre no pós-colheita.



A chuva no último trimestre


O percentual de chuva no último trimestre (março a maio) ficou bem abaixo da média na maior parte do país (Figura 1a). Na região das Matas de Minas os municípios menos afetados foram Matipó, Santa Margarida, São João do Manhuaçu, Orizânia, Luisburgo, Divino, Manhumirim, Alto Jequitibá, Alto Caparaó, Caparaó, Espera Feliz, Carangola e Caiana, com redução do volume de chuva entre 33 e 40 %. Nos demais municípios, a redução variou entre 40 e 57%, sendo maior nos municípios de Muriaé, Mirai, São Sebastião da Vargem Alegre e Rosário da Limeira na parte Sul da região, e em Inhapim, São Sebastião do Anta, Imbé de Minas, Conceição de Ipanema, Mutum e Lajinha na parte mais ao Norte.



Na mesorregião Sul/Sudoeste de Minas a redução foi entre 40 e 50 %, e na mesorregião Noroeste de Minas foi de até 40 % para a microrregião de Paracatu e de 57 % para a microrregião de Unaí. Com base na Figura 1b, pode ser visualizado a redução no volume de chuva que ocorreu no país entre 14 de junho de 2020 e 13 de junho de 2021. Sendo entre 100 a 300 mm na região das Matas de Minas e na mesorregião do Sul/Sudoeste de Minas. Na mesorregião Noroeste de Minas a redução variou entre 100 e 500 mm.

 

Figura 1. Em relação à média normal (1991-2002): a) Percentual de chuva (%) ocorrido entre 01 de março a 31 de maio de 2021 b) Anomalia do volume de chuva (mm) ocorrido entre 14 de junho de 2020 e 13 de junho de 2021. Fonte: https://www.noaa.gov.



A chuva nos próximos dias

Até o final do mês de junho o padrão da distribuição das chuvas esperado, de acordo com o Centro Nacional de Previsão Ambiental do Serviço Meteorológico Nacional dos EUA, é apresentado na Figura 2, na qual pode ser observada a probabilidade de ocorrência de volumes de chuva abaixo de 0,5 mm em grande parte da região central do Brasil, o que poderá representar redução de até 5 % em relação à média do período.

 

Figura 2. Precipitação prevista em 15 de junho de 2021 pelo National Centers for Environmental Prediction, realizada a com suporte dos valores médios mensais obtidos com base nos dados de chuva do período de 1979 a 2003. Fonte: https://www.weather.gov.



El Niño Oscilação Sul (ENOS)

Os ventos alísios, que sopram de leste na troposfera inferior, sobre a parte central do Pacífico equatorial, foram mais fortes do que a normal em maio, bem como a convecção atmosférica em torno da linha de data (180o L/O) no Pacífico equatorial foi próxima do normal, ratificando o fim do último fenômeno La Niña. Segundo o monitoramento do International Research Institute (IRI) em meados de maio, a temperatura da superfície do oceano (SSTs, em inglês) na região centro-leste do Pacífico alcançou cerca de 0,3 oC abaixo da média.



O IRI também cita que a grande maioria das previsões dos modelos globais prevê que temperatura da superfície dos oceanos permanecerão quase normais durante o inverno fazendo com que as condições de neutralidade possam persistir até o próximo setembro (Figura 3). Caso a temperatura da superfície do oceano Pacífico se mantenha abaixo da média, mesmo com o término do fenômeno La Niña, os efeitos do fenômeno deverão continuar influenciando o clima pelos próximos meses.

 

Figura 3. Previsão probabilística oficial (CPC/IRI) do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) realizado no início de junho de 2021. As condições ENOS foram baseadas nas anomalias da temperatura da superfície do oceano na região 3.4. Fonte: https://iri.columbia.edu.




O clima nos próximos três meses

Nos próximos dias, em junho, as frentes frias deverão continuar a adentrar o território brasileiro derrubando a temperatura, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, no Sul do Brasil, podendo provocar geadas nesses estados. No Sudeste as temperaturas devem também continuar sendo afetadas pelas passagens das frentes que começam a chegar mais fortes nessa região.



Nos meses de julho, agosto e setembro é esperado que o volume de chuvas ocorra abaixo da média do trimestre, principalmente ,na região Sul do Brasil, sendo que em setembro a secura poderá se estender também para o Mato Grosso do Sul. É esperado que as temperaturas fiquem um pouco acima da média em julho na maior parte do Brasil, com exceção dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na Bahia a exceção é para a região do Nordeste Baiano, e para Minas Gerais, são as regiões do Sul de Minas e da Zona da Mata. Em agosto e setembro são esperadas temperatura acima da média para uma região bem menor na parte mais central do país.




O café

 

As consequências do baixo volume de chuva na atual safra, principalmente no período de enchimento dos grãos de café, vêm agora sendo reveladas pela grande quantidade de frutos boia presentes nos lavadores de café, os quais dão origem aos grãos chochos e malformados. A ocorrência de pouca chuva, associada a temperaturas um pouco mais elevadas registradas no período do início da colheita, contribuiu para que os frutos de café passassem muito rápido do estádio verde para o seco, conservando-se no estádio cereja (maduro) por um período muito curto, dificultando a produção do café “cereja descascado”.



Esse fato também contribuirá para que os produtores de sementes de café tenham dificuldade no seu armazenamento em câmaras frias, podendo assim a oferta de sementes no mercado ser reduzida no futuro. O atual período com chuvas abaixo da média, entretanto, vem favorecendo o processo de secagem dos grãos, principalmente para aqueles cafeicultores que secam seus cafés em terreiros.



Nas regiões onde a colheita foi antecipada, caso os produtores já tenham terminado a colheita de sua safra, recomenda-se a imediata coleta e análises de solos para o planejamento das futuras adubações, mesmo diante da possibilidade de atraso no início da próxima estação das chuvas. Outra atividade que também poderá ser iniciada ao término da safra são as podas, que devem ser realizadas o mais rápido possível nas lavouras em avançada condição de depauperamento.


Além disso, os produtores devem aproveitar a mão de obra e realizar as desbrotas nas lavouras que foram podadas no ano anterior. Também não devem esquecer de, ao final da colheita, fazer o repasse nas lavouras, bem como recolher os frutos do chão, para que a atual infestação de broca do café, que foi favorecida pelo clima mais seco e quente, presente antes da colheita, não se estenda para a próxima safra.


Prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente, daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se também as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo Inmet (5º Disme)/CPTEC-Inpe.


O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Portanto, é de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

¹Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – [email protected]

²Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. [email protected]

Fonte: Comunicação Epamig


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