A decisão do governo federal de zerar a importação de alguns alimentos, anunciada na noite de segunda-feira (21/3) e publicada na edição desta quarta-feira (23/3) do Diário Oficial da União (DOU), preocupa a indústria brasileira do café, uma das afetadas pela medida. O setor acredita que o decreto vai aumentar as incertezas em toda a cadeia de produção, que tem observado uma forte queda nos preços, além de altos custos de produção e de indefinições com relação ao consumo global, devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, importantes compradores de café.
Ao conversar com a reportagem da Globo Rural, o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, mostrou indignação com a canetada do governo, que não envolveu o setor produtivo na discussão antes de tomar a decisão final. Além disso, o executivo avalia que a medida não terá o efeito esperado pelo Ministério da Economia. Os técnicos da pasta defenderam zerar as tarifas de importação dos sete produtos, porque teriam forte peso sobre a inflação. Permitindo a entrada dos alimentos sem cobrança de tarifas, esperam que a oferta interna aumente e os preços caiam.
No caso do café, porém, a medida tende a beneficiar um nicho de mercado. “São cafés que trabalham com outra linha, de grão superior, premium. A maioria vem da Suíça e da França. Esses produtos não são acessíveis para a grande população. Se o objetivo era atingir a cesta básica, a população de baixa renda, teriam de pensar em outras formas e não aumentar a competitividade com um produto de qualidade superior”, disse.
Outra preocupação da indústria é que a isenção de tarifas possa atrair aventureiros para o mercado, empresas não-industriais, que não têm de arcar com os custos de produção, transporte, impostos e que podem aproveitar-se da “nossa moeda fraca e inundar o mercado com um grão impossível de ser classificado no Brasil”. “Acabamos de aprovar uma portaria para determinar o mínimo de qualidade do café e a gente não tem nenhuma base para fazer análise desse café que virá de fora. São as inseguranças que isso traz quando vem uma determinação sem as devidas preocupações”, afirma Inácio.
Confira as alíquotas que eram aplicadas sobre a importação dos produtos afetados pela medida do governo:
Café e óleo de soja: 9%
Margarina: 10,8%
Macarrão: 14,4%
Açúcar: 16%
Etanol: 18%
Queijos: 28%
Fonte: Revista Globo Rural