Por meio de uma denúncia anônima, a Polícia Civil chegou, em janeiro de 2019, ao padre. Nessa época, ele morava em uma propriedade na zona rural de Guaçuí, foi detido e levado para dar depoimento. “Mas na data do crime, junho de 2018, eu estava no Rio de Janeiro. Fiquei por lá de maio a outubro de 2018, só então voltei para Guaçuí. Quando cheguei na delegacia, eles me perguntaram se eu sabia o motivo de estar sendo preso. Eu disse que não”, disse Frei Geraldo.
No próximo capítulo da história, Geraldo Aguiar foi detido e levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Cachoeiro de Itapemirim. “A polícia pegou uma foto preto e branco minha, levou para a vítima hospitalizada que disse que eu era o assaltante. Não tinha outras fotos para que a vítima pudesse comparar. Daí fui preso preventivamente. O que posso dizer é que a vítima se confundiu com alguém parecido comigo”.
“Eu fiquei um ano e um mês preso. No começo consegui um advogado. Ele entrou em contato com minha esposa, pegou R$ 500 de entrada e nada fez. Largamos de lado e tentamos um advogado público. Entre tirar o alimento dos meus filhos pequenos e pagar um advogado, preferi ter um advogado público. Depois de sete meses o defensor pegou a causa, mostrei tudo para ele, dei os caminhos, ele correu atrás, e fiz procuração para minha esposa na época. Nesse período, fiquei preso em Cachoeiro. Disseram que era uma prisão preventiva para não atrapalhar a investigação da polícia”, conta.
Um outro ponto contestado por Geraldo Aguiar é que, no local do crime, foi deixado um celular de um dos criminosos. Em audiência, que pedia a prisão preventiva de um segundo suspeito, o advogado do padre pediu que o aparelho fosse periciado.
“MM. Juíza, diante do interrogatório da vítima, onde ficou aclarada sua incerteza diante da visão pessoal do acusado, bem como por lhe ter sido apresentada foto de uma única pessoa e em preto e branco, decorrente de denúncia anônima, ausente de quaisquer outros elementos para caracterizar a autoria, logo em desacordo ao art. 226 do CP, requer a absolvição sumária e ou o relaxamento da prisão, dada a insuficiência de lastro probatório presentes no inquérito policial. Requer, ainda, perícia papiloscópica do celular deixado no local do crime pelos autores do roubo. Requer, ainda, a oitiva do policial responsável pelo auto de reconhecimento de fl. 13. A Defesa informa que o acusado utilizava o telefone número (21) XXXXX-XXXX do período em que ocorreu o fato, de modo a comprovar que o mesmo estava no Rio de Janeiro no referido período”, alegou a defesa de Frei Geraldo.
O promotor do caso manifestou-se favorável a prisão de Geraldo Aguiar. “É notório conhecimento que quando uma pessoa fica encarcerada a sua pela se torna mais clara, pois o mesmo não fica sujeito ao sol como uma pessoa em liberdade. Nesse rumo, a vítima foi clara em asseverar que era o réu aqui presente, mas um pouco mais moreno, o que é natural”, sustentou o MPES.
Na ocasião, o Ministério Público também pediu que a polícia informasse sobre o celular deixado no local do crime, “haja vista que não consta apreensão do mesmo nos autos. Noutra vertente, caso seja confirmada a existência do celular, manifesta contrário ao exame papiloscópico, na medida em que o celular foi manuseado por terceiro, como a própria vítima disse e que seja o mesmo submetido a perícia para identificar quem é o dono e quais são as conversas nele contidas. (…) Quanto a manifestação relacionada ao telefone, que supostamente pertence ao réu Geraldo, o MP requer que seja oficiada à empresa Vivo para que informe em nome de quem estava o telefone mencionado acima na data de 04/06/2018, assim como informe as ERBS do mês de maio, junho e julho de 2018”.
O padre, que aguarda o julgamento em liberdade provisória, com uso de tornozeleira eletrônica, disse que pretende escrever um livro contando sua história. “Não está sendo fácil. Tive uma preparação psicológica muito grande no seminário. Qualquer outro que não cometeu um crime não conseguiria. Fui jogado na pior galeria, pelo crime que disseram que cometi. Mas acredito que nada acontece se não tem de acontecer, então, vou tentar tirar algum ensinamento disso”, finaliza.
Demandada pela reportagem sobre o inquérito, a assessoria da Polícia Civil informou, em nota, que em casos que já correm na Justiça, a orientação é procurar o órgão competente. “Se ele ficou preso, foi expedido um mandando de prisão e o Ministério Público, além do Poder Judiciário, entenderam que haviam elementos suficientes para que se tornasse um processo”.
Fernanda Zandonadi - Aqui Notícias