21/12/2020 às 16h26min - Atualizada em 21/12/2020 às 16h26min

Movimento “Mineração Aqui Não” protesta na região do Caparaó

Mineração de bauxita

A região do Caparaó, possui 22 municípios que estão sendo cotados pela mineração de bauxita, uma vez que estão com áreas abrangidas por direitos minerários pertencentes à empresa Mineração Curimbaba. 


Membros do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e do Núcleo de Enfrentamento à Mineração na Região do Caparaó e da comunidade se reuniram no córrego da Taquara Preta (Manhuaçu), onde será perfurada uma mina.



No sábado (19/12), representantes de diversas comunidades de Manhuaçu se reuniram na Igreja São Sebastião da Taquara Preta, para se manifestarem contra as ações da Mineradora Curimbaba na localidade e no município. O ato, que reuniu cerca de 70 pessoas, foi motivado pelo início dos trabalhos de decapeamento de solo em uma área que já recebeu a licença para a perfuração de lavra para a extração de bauxita, minério destinado à produção do alumínio.


Segundo o coordenador do MAM na Zona da Mata, Jean Carlos, são muitos os motivos que tornam o início dessas atividades extrativistas inadequadas, entre eles a rapidez com a qual a licença ambiental foi concedida: “A licença foi emitida com 29 dias úteis. É uma das licenças mais rápidas da história que a gente já viu. Órgão nenhum faz isso de forma democrática, porque com 29 dias não dá pra você ouvir ninguém”, afirma.



Jean, que também é técnico e gestor ambiental, ressalta que a atividade mineradora trará inúmeros prejuízos para a comunidade da Taquara Preta e para todo o município. De acordo com o técnico, para receber a licença ambiental a mineradora afirmou não haver nenhum conflito por uso dos recursos hídricos na região onde ficará situada a mina, porém, segundo informações do Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio Manhuaçu, a lavra ficará localizada em uma área estratégica para a captação de água que abastece a cidade. “Eles informaram a gente que a captação do município de Manhuaçu acontece hoje no Manhuaçuzinho, esse é o ‘plano A’. O ‘plano B’ é a comunidade, o setor Palmital, a região do Palmital, na verdade. Então, quando falta água, se faltar água no Manhuaçuzinho, a água de Manhuaçu vem dessa região”, explicou.



Sobre o ato de enfrentamento, Jean declara: “A nossa ação é legal e ela é legítima. Nós estamos lutando pelo direito mais fundamental da pessoa humana, que é o direito à água e em segundo o direito ao alimento, é dessa região que a gente tá vendo aqui é que vem o café, que vem a mandioca, que vem os produtos que vão pra nossa mesa”.



Para o coordenador do Núcleo de Enfrentamento à Mineração em Manhuaçu, Adão Juvenato, a ação realizada neste último sábado representa um acontecimento importante para o movimento, pois não se trata de algo isolado. “É um momento de alegria por nós estarmos reunidos em comunidade para defender não uma causa de uma comunidade, mas sim uma causa universal. A casa comum pertence a todos nós”, enfatizou enquanto convidava os presentes a entoarem cânticos durante o percurso entre a igreja e o local da mina, uma caminhada por cerca de dois quilômetros em estradas vicinais, rodeadas por casas e plantações.

 

Durante a ação os participantes tiveram a oportunidade de manifestar suas preocupações em relação à possibilidade de terem que conviver com a mineração em suas comunidades. “A gente fica muito triste de ver isso acontecendo aqui hoje, porque a gente via isso só em televisão, muito longe da gente, muito longe da nossa realidade”, desabafa a moradora do córrego da Taquara Preta e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), Dayse Dias. A produtora rural também falou sobre seus temores em relação aos impactos ambientais causados pela atividade de extração mineral, como a contaminação dos recursos hídricos e do ar, a modificação do solo e o aumento do tráfego de veículos pesados, que irá interferir diretamente na rotina da comunidade.

 


A integrante do MAM na Zona e engenheira civil, Caroline Nunes, que também esteve presente na ação, questiona a promessa de crescimento econômico que comumente acompanha o discurso favorável à mineração: “O MAM, Movimento Pela Soberania Popular na Mineração, faz esse enfrentamento de forma nacional contra as mineradoras, contra o poder capital mineral, que coloca o lucro acima da vida das pessoas e aqui não é diferente. Todo mundo fala que se vier a mineradora vai gerar emprego, vai gerar renda, mas se minerar bauxita a gente corre um risco muito sério, muito grave de ficar sem água e sem água não tem vida, não tem agricultura”. A engenheira ainda argumenta: “Então qual é a nossa escolha? A gente quer a mineradora com esse investimento arriscado, duvidoso, que a gente não sabe, nem participa ou queremos nossa agricultura familiar, a cafeicultura e, principalmente, a nossa água?”.
 


Além de representantes do MAM, membros do Núcleo de Enfrentamento à Mineração na Região do Caparaó e membros da comunidade, também estiveram presentes o vereador Cleber Benfica (PP) e a candidata eleita à Prefeitura de Manhuaçu, Maria Imaculada Dutra (PSB), que reafirmou seu posicionamento contrário à exploração mineral no município e informou que irá articular, junto à Câmara Municipal, maneiras de barrar a mineração na cidade. “Eu estou aqui me colocando à disposição para estar com vocês para o que der e vier”, declarou a prefeita eleita.


Informações: www.mamnacional.org.br


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