A preferência por produtos naturais na saúde humana não se resume à alimentação. O uso de blends feitos com óleos essenciais- a aromaterapia- está fazendo a cabeça de muitas pessoas e tem ligação estreita com o agro. O líquido extraído das ervas é transformado em cosméticos, como xampus e condicionadores sólidos e essências, utilizados na terapia capilar e por quem busca se conectar com a natureza.
A produção de ervas aromáticas, medicinais e condimentares envolve pelo menos 15 moradores da comunidade hippie de Patrimônio da Penha, distrito de Divino de São Lourenço, na região do Caparaó. Nos próprios quintais ou em herbários compartilhados, os "mateiros" cultivam diversas espécies, dentre nativas e adaptadas, como capim-limão, calêndula, alecrim, gerânio, lavanda entre outras plantas.
Desse total, ao menos sete pessoas se dedicam à fabricação de produtos naturais. Uma delas é Saluah Martins, goiana radicada em Patrimônio da Penha há 20 anos. Ela cultiva 120 ervas, algumas com risco de extinção, que são matéria-prima para 12 cosméticos, além de fitoterápicos e homeopáticos. Segundo Saluah, seu trabalho consiste numa “linha de consciência”, que passou a incluir mais recentemente a aromaterapia. Ela conta que colhe as ervas com base no calendário biodinâmico. “Só colho aquelas cujo princípio ativo do dia está mais atuante e retiro os óleos”, diz.
Quem vive esse estilo de vida alternativo acredita no bem-estar a partir do contato com a natureza. Um conceito compartilhando com quem visita a comunidade hippie. Entre os cosméticos que Saluah produz e comercializa estão expansores para aplicação em “ambiente de breu” (para limpeza energética “super pesada”), colônia de alfazema (com mostra colhida na entrada do Solstício- duas datas do ano em que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do Equador), repelente e protetor natural biodegradável.
Esse último produto natural é formulado e seu uso, incentivado entre os visitantes para não agredir as cachoeiras da localidade no entorno do Pico da Bandeira, principalmente em épocas de realização de festivais, como o Penha Roots.
Saluah é uma das pioneiras na conscientização ambiental na comunidade. Ela conta que, quando foi morar em Patrimônio da Penha, muitas ONGs e instituições agrícolas estaduais ministravam treinamentos com mais frequência para os moradores. “Hoje não temos tanto apoio”.
Mas de acordo com a aromaterapeuta, o grupo busca informação na internet e os negócios com aromaterapia estão evoluindo, inclusive no fortalecimento da rede com produtores de outras regiões do país. “A gente produz com o que nós temos, mas procuramos produtores de andiroba, castanha do pará, manteiga de cupuaçu para incrementar a oferta”, diz.
A espiritualidade da comunidade hippie caparaoense se reflete no desapego e na cooperação. Os produtores de ervas sempre trocam mudas e compartilham plantas entre eles e os visitantes. A ideologia não é competir com o mercado, mas substituir industrializados por naturais.
“Propagamos a ideia de não explorar outras pessoas por ganância, porque queremos consciência tanto com a água quanto com a terra”, conclui Saluah Martins.