A única preocupação do cafeicultor é o material interferir no resultado da qualidade dos grãos, o que, segundo ele, não foi verificado no país vizinho.
“A região que conheci tem muita umidade no ar e o bambu não foi problema. Os produtores usam até palha de arroz sobre o bambu e debaixo do sombrite para evitar umidade”, relata.
Diferente do experimento do José Alexandre, o gerente do escritório local do Incaper de Guaçuí e também cafeicultor, Maxuel Assis, utilizou bambu gigante como suporte do terreiro suspenso na propriedade de Gilson Quinelato, na localidade de São Pedro de Rates, interior do município. “Só não utilizei as travessas como no modelo do José Alexandre. Ficou barato e funcionou bem”.
A recomendação é ficar atento à presença da água na estrutura em bambu.
O coordenador do Laboratório de Classificação e Degustação de Café do Ifes campus Alegre, João Batista Pavesi, destaca a necessidade de drenar bem o café lavado antes de colocá-lo no terreiro suspenso para evitar mofo.
“O bambu não pode com água, porque o mofo é fácil. Se o produtor for tirar o boia, não pode jogar café maduro diretamente sobre o bambu porque tem muita água do processo do bóia. É preciso drenar um pouco os grãos para só depois colocar no terreiro suspenso”, aconselha Pavesi.
No caso do José Alexandre Lacerda, ele usou a parte externa do bambu para cima, o que garante uma proteção melhor do molhamento, segundo o professor.
Broca
“Além da umidade, o bambu dá broca. No entanto, acredito que tudo o que está sendo feito como teste entre os cafeicultores vai trazer informações para nós avaliarmos os resultados com o tempo”, diz Pavesi.
O secretário da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec) e produtor da comunidade de Galileia, zona rural de Caparaó (MG), Walker Brinati, sugere tratar o bambu antes de utilizá-lo. A observação dele parte da experiência pessoal em campo.
“O ideal é cortá-lo na Lua Minguante e de preferência entre maio e agosto. É interessante deixá-lo de molho na água por quinze dias. Com esse procedimento, o bambu perde os açúcares que são fonte de alimento para a broca. O bambu não apodrece e ainda fica muito resistente”, afirma Brinati.
O primeiro sinal de mofo verde no bambu acende o alerta vermelho para quem espera qualidade superior na bebida. De acordo com o professor João Batista Pavesi, os organismos decompositores de bambu são sempre os fungos, uma vez que a madeira não é atrativa para bactérias.
Dentre os fungos que atuam no bambu molhado e outras matérias orgânicas, existem aqueles atrelados a problemas na qualidade do café, como por exemplo o Penicillium e o Aspergillus.
“O produtor tem que ficar atento porque esses decompositores, além de depreciarem o café podem produzir toxinas. Existem fungos favoráveis à qualidade de café, mas não é o caso deles”, alerta o professor.
Por Leandro Fidelis